A Invencível
Armada (português brasileiro) ou Armada Invencível (português europeu) (em
castelhano: "Grande y Felicísima Armada"), também referida como
"la Armada Invencible" (castelhano) ou "the Invincible
Fleet" (inglês), com certo tom irônico, pelos ingleses no século XVI, foi
uma esquadra reunida pelo rei Filipe II de Espanha em 1588 para invadir a
Inglaterra. A Batalha Naval de Gravelines foi o maior combate da não declarada
Guerra Anglo-Espanhola e a tentativa de Filipe II de neutralizar a influência inglesa
sobre a política dos Países Baixos Espanhóis e reafirmar hegemonia na guerra
nos mares.
A armada era
composta por 130 navios bem artilhados, tripulados por 8 000 marinheiros,
transportando 18 000 soldados e estava destinada a embarcar mais um exército de
30 000 infantes. No comando, o Duque de Medina-Sidônia seguia num galeão
português, o São Martinho. No combate no Canal da Mancha, os ingleses impediram
o embarque das tropas em terra, frustraram os planos de invasão e obrigaram a
Armada a regressar contornando as Ilhas Britânicas. Na viagem de volta, devido
às tempestades, cerca de metade dos navios se perdeu. O episódio da armada foi
uma grave derrota política e estratégica para a coroa espanhola e teve grande
impacto positivo para a identidade nacional inglesa.
Antecedentes
Três importantes
fatores estão na base da decisão do monarca espanhol em tentar invadir a
Inglaterra. Em primeiro lugar, a coroa espanhola enfrentava a rebelião dos
exércitos holandeses em suas possessões em Flandres e em territórios dos atuais
Países Baixos Neerlandeses, Bélgica e Luxemburgo, herdadas por Filipe II de seu
pai, Carlos I. A manutenção do domínio nos países baixos tinha grande
importância estratégica e comercial para o Império Espanhol, mas envolvia
também o enfrentamento do crescente poder protestante na Europa, representado
ali pelos calvinistas das províncias do norte. Isto apresenta o segundo fator:
a Espanha era então a principal força aliada da Igreja Católica e estava
envolvida, política e militarmente, tanto na defesa do cristianismo contra os
muçulmanos no mediterrâneo quanto na contrarreforma católica em face ao
surgimento dos protestantes na Europa. Os nobres calvinistas em Flandres sempre
contaram com apoio inglês, especialmente nas operações navais e naquele momento
sofriam graves derrotas em terra diante do comando de Alexandre Farnésio, o
Duque de Parma, à frente dos exércitos espanhóis. Com a França há décadas
neutralizada por sucessivas derrotas para os espanhóis, como em Pavia, San
Quintín e na batalha terrestre de Gravelinas, e o Sacro Império
Romano-Germânico eternamente nas mãos dos Habsburgo (família à qual pertencia
Filipe II), a queda dos ricos porém vulneráveis aliados comerciais holandeses
isolaria de vez a Inglaterra. Para fazer frente a isto, a rainha Isabel I
ordenou ou apoiou diversas ações, do envio de tropas para a Holanda à cessão de
cartas de corso para piratas ingleses, habituais ameaças às frotas espanholas
do novo mundo. Oscorsários ingleses davam caça aos galeões espanhóis no Atlântico
e no Pacífico. Apesar da notabilidade dessas ações, foram raros os sucessos, no
entanto, desde a organização da frota das índias espanholas para a proteção dos
carregamentos de ouro vindos do novo mundo. Foi durante estas lutas que sir
Francis Drake se notabilizou. Regressava à Inglaterra carregado de grandes
tesouros depois de ter incursado numa viagem de circum-navegação. Isabel I
aceitava serenamente os protestos espanhóis bem como a sua parte dos saques, já
que a guerra dos "aventureiros mercadores", como eram designados os
corsários na Inglaterra, era feita com apoio da coroa. O efeito do apoio inglês
direto ou indireto impedia a derrota final dos holandeses e a longa guerra há
muito não era mais suportável para a economia da coroa espanhola, à beira da
bancarrota. Se tornou prioritário neutralizar a Inglaterra.
Finalmente, as
questões religiosas agravaram a rivalidade entre as duas nações: Filipe II
apoiava activamente a causa católica e conspirava na Inglaterra para colocar
Maria Stuart, rainha de Escócia, católica, no trono britânico e depor a
protestante Isabel I. Foi precisamente a execução de Maria Stuart que serviu de
último motivo para a guerra aberta entre os dois países.
Filipe II decidiu
então concentrar uma gigantesca frota no estuário do Tejo para a invasão.
Aproximadamente um terço desta frota (43 navios) era portuguesa. Sabendo da
notória supremacia dosTercios de infantaria espanhóis, sobre todos os exércitos
contemporâneos, e da fragilidade inglesa em terra, planejou uma invasão maciça
pelo canal da mancha utilizando o exército do Duque de Parma estacionado em
Flandres. Para tanto precisaria efetuar o maior desembarque naval da história
até então, daí a enormidade da frota necessária.
Filipe II era
então também rei de Portugal em função da União Dinástica Ibérica, pelo que
alguns dos navios utilizados faziam parte da frota portuguesa. Um dos
principais esquadrões de batalha era chamado de "Esquadra Portugal",
tendo alguns dos melhores galeões de guerra do mundo. Grande parte dos pilotos,
marinheiros e soldados da Invencível Armada eram portugueses, apesar de serem
comandados por espanhóis. Tal facto gerou controvérsia na altura, dado que os
portugueses, ainda pouco acostumados com as consequências da união dinástica
com o Império Espanhol, não se sentiam à vontade a combater em navios do seu
país e serem comandados por espanhóis. Os ingleses, pelo seu lado, conseguiram
tomar maior proveito dos seus navios de guerra. Cada esquadra era comandada de
acordo com a nacionalidade dos capitães, homens e navios. Desta forma,
evitavam-se motins ou outras acções de insurreição.
O confronto
A armada saiu de
Lisboa a 28 de maio de 1588, com 130 barcos, 8 mil marinheiros e 18 mil
soldados. O plano era destruir a frota inglesa que guardava o Canal da Mancha e
ao mesmo tempo desembarcar próximo a Londres o exército do Duque de Parma, de
30 mil soldados, que aguardava nos Países Baixos Espanhóis.
Só após 15 dias
os espanhóis conseguiram avistar a Inglaterra. Durante este tempo, a falta de
vento na costa portuguesa e uma tempestade junto ao cabo Finisterra dispersaram
os navios. Durante alguns dias, em pleno Canal da Mancha, as frotas
estudaram-se uma à outra sem atacar. Apesar de ter tido oportunidade de atacar
a frota inglesa, imobilizada em Plymouth pela ação da maré, o comando espanhol
parece ter sido expressamente ordenado por Filipe II para dar prioridade à
operação de embarque de tropas e não correr riscos de perda de navios antes da
hora. Contrariando conselhos de seu capitães, que consideravam o ataque viável,
Medina Sidonia decidiu seguir ruma à ilha de Wight, com destino à costa
continental. Os ingleses, comandados pelo célebre corsário sir Francis Drake,
mantinham-se imediatamente atrás deles, a pouca distância. Depois de
escaramuças inconclusivas entre as duas frotas, dois navios espanhois colidiram
e foram abandonados. Tal fato ajudou Drake a conhecer vulnerabilidades dos
navios do inimigo que lhe serviriam mais tarde. A operação de embarque de
tropas se revelou mal planejada.1 O porto de Dunquerque, escolhido para reunir
e embarcar as tropas sofreu bloqueio por navios holandeses e a armada teve de
aportar em Calais. Os grandes galeões não podiam se aproximar da praia e o
transporte dependia de barcos leves que por sua vez dependiam de embarque por
botes. Navios holandeses leves ameaçavam tanto as grandes embarcações, que
precisavam limitar suas manobras para receber embarques, quanto os botes de
transporte. A comunicação entre as tropas em terra e os navios foi
problemática. Ao mesmo tempo os grandes galeões, que deviam proteger os navios
de transporte da Armada, foram constantemente ameaçados pelas manobras
inglesas. Às duas da manhã da segunda-feira seguinte, preparava o conselho de
guerra inglês seis urcas velhas — os navios de fogo — que abarrotou de
combustível e enviou para o seio da esquadra espanhola, cada uma com seu piloto
que a iria dirigir, com o auxílio da maré. Uma vez bem próximo do centro da
esquadra eram ateadas as barcas, fugindo os pilotos nos seus batéis. Temendo
que os navios fossem incendiados, muitas tripulações cortaram precipitadamente
suas âncoras para se mobilizarem.
A esquadra
espanhola perdia assim a coesão, especialmente quando precisava se manter
compacta e imóvel, para proteger o possível embarque. Outra desvantagem
notória, que se revelou uma guinada na arte da guerra no mar, foi o maior poder
de disparo dos ágeis e leves barcos ingleses. Os espanhóis, em combate
marítimo, se especializaram em vencer batalhas de abordagem, como em Lepanto.
Assim seus grandes navios de guerra, os galeões, eram generosos em espaço para
transporte de tropas e muito estáveis no alto-mar. Se eram perfeitos para a
defesa do carregamento de ouro na travessia do Atlântico, revelaram capacidade
de manobra limitada em locais como o Canal da Mancha e o recortado litoral
próximo. Não tinham também preparo, na época, para um combate essencialmente
baseado no fogo dos canhões. Seu sistema de recarregamento era lento e o espaço
de ação dos artilheiros limitado. De tudo isto, Drake soube ao examinar o
Galeão abandonado. Tentando agrupar um formação defensiva viável, a Armada se
alinhou em frente ao pequeno porto de Gravelinas, onde já tinha poucas chances
de concretizar um embarque significativo com a rapidez necessária. Os barcos
ingleses eram menores porem mais numerosos, seus canhões disparavam
incessantemente e quando ameaçados eram mais ágeis para fugir, mesmo em águas
rasas. A estratégia dos navios incendiários também impedia os grandes barcos de
se agruparem convenientemente e aumentar seu poder de fogo. Por fim, vários
navios mercantes adaptados, necessários para o transporte das tropas invasoras,
foram gravemente danificados ou capturados. A esquadra via-se reduzida e
incapaz de cumprir sua tarefa, ao mesmo tempo impedida de voltar pelo sul
devido ao bloqueio inglês, o que levou o Duque de Medina Sidnonia a decidir
contornar as Ilhas Britânicas. Nas costas da Escócia e Irlanda, uma atribulada
viagem que sofreu as tempestades de setembro, típicas na região, resultou na
maior parte dos naufrágios, sobretudo dos navios mercantes improvisados como
naves de guerra. Dos cerca de 130 navios que chegaram a compor a esquadra,
cinco foram efetivamente afundados em combate em Gravelinas, diversos sofreram
danos graves e perderam condições de batalha e outros cinquenta foram perdidos
na viagem de volta em tempestades, sobretudo navios mercantes. Enquanto
circundava o arquipélago britânico, a armada não atacou nem foi atacada e
manteve os ingleses em permanente tensão, apesar da grande euforia inicial com
o desfecho do combate no canal. Com o retorno à península Ibérica, atracando a
maioria dos galeões de primeira classe na costa cantábrica para reparos, ficou
evidente a extensão do revés para a coroa espanhola. O prejuízo financeiro e
político fora grave. Teria na época Filipe II exclamado: "Não mandei meus
navios para combater aos elementos!". Pareceu impossível qualquer novo
plano de ataque à Inglaterra e mais ameaçadora a força de sua marinha. Esta
humilhante derrota teria também grandes repercussões para Portugal.
Consequências
O episódio no
canal foi decisivo para que holandeses e principalmente ingleses compreendessem
a vantagem estratégica que uma marinha de guerra profissional poderia
significar. Na ocasião do combate, grande parte da frota reunida era dos navios
corsários e não pertencia à marinha militar regular. Foi só a partir de então
que se deu o grande impulso que tornou a Inglaterra na maior potencia naval do
mundo, porém isto só se tornou patente mais de 50 anos depois. Desde o século
XV e até então, tal título sempre fora outorgado a Portugal e à Espanha. A derrota
também foi decisiva para o abandono, por parte do Império Espanhol, de qualquer
projeto de investir em uma corrida armamentista naval contra ingleses e
holandeses: não teria dinheiro para isto e só seria relevante proteger os
carregamentos anuais de ouro e prata da América. Para tanto, a armada foi
reorganizada, reequipada e modernizada, formando uma frota de galeões que era
mais do que suficiente para coibir ameaças à própria península Ibérica bem como
aos comboios de metais preciosos. Porém não era uma frota de alcance global,
como um dia se pensava que existiria. Esta menor dimensão das forças navais
prejudicou a segurança das cargas mercantes alheias aos interesses da coroa, e
o volume de negócios entre as diversas partes do Império Espanhol e a metrópole
caiu em face ao contrabando oriundo de outras nações inimigas como a Holanda,
Inglaterra e França.
As próprias
colônias se tornaram mais desprotegidas diante do expansionismo marítimo de
tais países. Porém isto foi mais sentido nas possessões portuguesas que nas
espanholas. Enquanto as primeiras, como o Brasil, eram, no século XVI, áreas de
ocupação litorânea, fundamentalmente, com pouca penetração continental e
pequena população militar, as áreas coloniais espanholas eram interiorizadas e
contavam com razoável efetivo militar terrestre permanente. Isto tornou os
remanescentes do Império Português muito mais vulneráveis a invasões por mar, o
que efetivamente ocorreu durante a União Ibérica e levou a um crescente
ressentimento lusitano em relação ao domínio espanhol. Finalmente, a derrota da
Armada foi intensamente e, de forma inédita, transformada em peça de propaganda
inglesa e de todo o mundo protestante. Nessas versões, se ressaltam um suposto
caráter religioso fundamentalista da motivação de Filipe II em agredir a
Inglaterra, a influência corrupta do papa, a genialidade dos corsários e
almirantes ingleses e a incompetência espanhola. Se costuma afirmar, também,
que o combate no canal terminou com uma vitória convencional, com muitos navios
afundados do lado derrotado. A vitória inglesa foi, na verdade, uma vitória
tática completa, mas a batalha em si pode ser vista como inconclusiva: apesar
do triunfo, os ingleses não foram capazes de impedir o reagrupamento da frota
ibérica e a perda de navios se deu em grande parte mais tarde, nas tempestades.
Todos os demais mitos os fatos históricos também desmentem: havia muitos
motivos estratégicos para a invasão, a Inglaterra não era neutra e jogava o que
veio a ser seu mais frequente papel político (manter o balanço de poder no
continente), a Espanha era uma potência naval incontestável, a frota da coroa
nunca foi derrotada por piratas e corsários em outra ocasião. A armada
circundou a Ilhas Britânicas e ninguém ousou tentar atacá-la, quando teria sido
muito estratégico eliminá-la.
No ano seguinte,
Drake comandou uma expedição inglesa à península Ibérica, que se esquivou de
atacar a frota ancorada em Santander e que apenas ocupou por pouco tempo
Lisboa, tentando apoiar um movimento de insurreição português. Logo, teve de se
retirar antes de enfrentar as tropas leais a Filipe II. Um confronto naval
aberto com a marinha de guerra espanhola não parecia estar ao alcance dos
ingleses na época, o que não mais seria temido num futuro próximo. No entanto,
a versão da propaganda é até hoje influente no imaginário popular dos países de
língua Inglesa e muito ajudou a desgastar a imagem do Império Espanhol,
obscurecer suas virtudes e complexidades e acentuar a identidade protestante,
numa rejeição global ao mundo católico.
Fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Invenc%C3%ADvel_Armada
http://www.areamilitar.net/HISTbcr.aspx?N=103
http://www.areamilitar.net/HISTbcr.aspx?N=102
Aluno: Livia
Amaral


Gente
ResponderExcluirLeiam a fala da Rainha Elizabeth I, enquanto as tropas inglesas se preparavam para esperar a Armada Espanhola.
Que comentários podem fazer sobre as palavras da Rainha?
“Speech to The Troops at Tilbury”
(1588)
My loving people,
We have been persuaded by some that are careful of our safety, to take heed
how we commit ourselves to armed multitudes, for fear of treachery; but I
assure you I do not desire to live to distrust my faithful and loving people. Let
tyrants fear, I have always so behaved myself that, under God, I have placed my
chiefest strength and safeguard in the loyal hearts and good-will of my subjects;
and therefore I am come amongst you, as you see, at this time, not for my
recreation and disport, but being resolved, in the midst and heat of the battle,
to live and die amongst you all; to lay down for my God, and for my kingdom,
and my people, my honour and my blood, even in the dust. I know I have the
body but of a weak and feeble woman; but I have the heart and stomach of
a king, and of a king of England too, and think foul scorn that Parma or Spain,
or any prince of Europe, should dare to invade the borders of my realm; to
which rather than any dishonour shall grow by me, I myself will take up arms,
I myself will be your general, judge, and rewarder of every one of your virtues
in the field. I know already, for your forwardness you have deserved rewards
and crowns; and We do assure you in the word of a prince, they shall be duly
paid you. In the mean time, my lieutenant general shall be in my stead, than
whom never prince commanded a more noble or worthy subject; not doubting
but by your obedience to my general, by your concord in the camp, and your
valour in the field, we shall shortly have a famous victory over those enemies of
my God, of my kingdom, and of my people (p. 29).
From The Norton Anthology of Literature by Women.